quarta-feira, 27 de julho de 2011

Filosofia do Caos - Suicídio

Ontem em uma conversa habitual antes do jantar, minha sogra falava de um rapaz que se suicidou e atribuiu a isto um ato de fraqueza, e eu como um bom ruminante, fiquei pensando naquelas palavras, o que fez submergir alguns demônios filosóficos e, por conseguinte, resolvi escrever esta pequena dissertação.

Como premissa primeira, não vejo o suicídio como uma fraqueza ou algo ontologicamente maléfico, e sim um ato contaminado pro valores axiológicos cristãos e decadentes (que nietzschiano fui agora). O ato de tirar sua própria vida é visto pela cultura dominante como um ato de fracasso e covardia, uma aberração psiquiátrica, onde o potencial suicida tem de ser curado desta maligna obsessão. Contudo, através de uma análise histórica, podemos perceber que a conotação pejorativa ligada ao suicídio advém, principalmente, da moral cristã que prega este crime como um dos maiores pecados.

Em tempos primitivos, era costume o ancião suicidar-se para promover o bem comum social. No Egito antigo, foi criada a Academia de Sinapotumenos, que ensinava aos servos morrerem junto ao faraó, para não abandoná-lo no mundo dos mortos. Na Grécia antiga, o suicídio poderia ser considerado um crime contra a sociedade, e o potencial suicida deveria comunicar seu suicídio e esperar o consenso da comunidade, contudo, o suicídio na Grécia era sentenciado àqueles que praticavam crime contra o Estado grego, o caso mais famoso foi o do filósofo Sócrates, condenado a beber cicuta depois de ser acusado de corromper a juventude e por impiedade aos deuses. Na Roma antiga, com certa influência do estoicismo, o suicídio ganha uma conotação política, como ato de resistência perante o poder político opressor, vide como exemplo a morte de Sêneca perante Nero e a de Catão diante da soberania de César. Até mesmo nos primórdios do cristianismo, era costume que uma horda de cristão tirasse a própria vida, visando o alívio dos sofrimentos terrenos e buscando o cessar da dor junto a Deus. Por isso, devido a grande parcela de cristãos que praticavam suicídio, a Igreja através do Concílio de Arles decide condenar o suicídio como um crime, pregando a ausência de rituais o repúdio de Deus ao suicidado.

Com este argumento, ao longo da história do ocidente, o suicídio foi elevado ao patamar de um tabu social, atribuindo valores negativos ao suicida, sempre condenando-o pelo crime a sua vida. Nietzsche em um de seus livros cita que "O suicídio é admitir a morte no tempo certo e com liberdade", ou como o professor Orlandi da Unicamp expressa em sua palestra sobre ética em Deleuze, o suicídio do filósofo francês foi ato extremamente singular do filósofo, onde o mesmo exerceu o direito de tirar a sua própria vida.

Levando em conta o princípio de que a vida é singular, por que temos de julgar o ato de suicídio do outro? Onde está a autonomia da pessoa em decidir se não quer mais viver? Por que devo dizer a um Deleuze que não se deve pular da janela? O que faz minha verdade e minha crença ser mais verdadeira do que a outra? Por que o suicídio é uma fraqueza se nada contra a corrente dos valores em voga em nossa cultura? Será que o ato de tirar a própria vida não advém muito mais da coragem do que da covardia?

São questões que para serem respondidas é preciso estar para além do bem e do mal...

FONTE: http://filosofiadocaos.blogspot.com/2009/12/o-suicidio.html

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