domingo, 29 de agosto de 2010

Jovens Gays - Alto risco de Suicídio na Europa.

Metade dos jovens gays e lésbicas ouvidos em pesquisa feita pelo governo da Holanda já pensaram em cometer suicídio. Quase um em cada dez meninos e uma em cada oito meninas afirmam ter tentado se matar, uma atitude que menos da metade dos homossexuais em geral disse já ter tomado. A tendência é maior entre os mais jovens. É a primeira vez que esses dados são divulgados na Holanda, considerado o país de maior aceitação da homossexualidade na Europa, e geraram um alerta para o tema em outros países do continente.

Em Portugal, tentar suicídio foi um dos sentimentos relatados por vítimas de agressão (verbal ou física) que se queixaram ao Observatório da Educação Educação da Rede Ex Aeqo – associação de jovens homossexuais, bissexuais e transgêneros.

A situação é considerada “preocupante” pelo relatório Just Different, That's All, divulgado no dia 13 pelo Instituto Holandês de Pesquisa Social (SCP, na sigla em holandês), que pede atenção do sistema de saúde do país para a situação psicológica dos jovens.

“Hoje, as políticas do governo são voltadas para [a prevenção de] espancamentos de gays. Mas o risco de suicídio definitivamente se tornará preocupação”, diz Saskia Keuzenkamp, coordenadora da pesquisa, em entrevista ao Opera Mundi. “São dados relativamente novos. Algumas ONGs haviam notado e pedido para o governo fazer algo”. No entanto, a coordenadora da pesquisa aponta que nenhuma medida foi tomada pelas autoridades.

O estudo foi feito com base em questionários destinados a cerca de 1,6 mil jovens entre 16 a 25 anos e 30 entrevistas. O SCP considera o universo amostral como representativo, apesar de não haver uma estatística formal que classifique os indivíduos de acordo com a opção sexual. Os dados sobre o suicídio entre heterossexuais foram obtidos em outras pesquisas sobre o tema.

Identidade

De acordo com o relatório, o risco de suicídio cresce quando o homossexual vive em um ambiente hostil à sua opção. Um em cada quatro jovens (ou 25%) que disseram ser alvo de reações negativas semanalmente afirma ter tentado acabar com a própria vida. No geral, a taxa gira em torno de um em cada oito lésbicas e quase um em cada dez gays.

Os ataques dificultam a autoaceitação em um período que é justamente de formação da identidade do indivíduo e levam também a uma maior ocorrência de depressão. Os gays que regularmente são alvo de rejeição têm três vezes mais surtos depressivos do que os aceitos, segundo os entrevistados no estudo. As lésbicas mais masculinizadas tendem a ser mais deprimidas do que as demais e o mesmo fenômeno acontece entre os gays afeminados, embora a diferença não seja tão grande.

A Holanda tem uma tradição histórica de aceitação do homossexualismo. No país, desde o início do século passado, a prática sexual entre pessoas do mesmo sexo não é proibida – algo que foi considerado crime em Portugal até a década de 1980, por exemplo. O país foi o primeiro do mundo a aprovar o casamento homossexual com direito a adoção, em abril de 2001 – a lei portuguesa foi aprovada em maio e retira expressamente esse direito dos casais.

Em outra pesquisa do SCP, divulgada em março, perguntados se seria inaceitável ter um filho gay ou lésbica, 87% dos entrevistados disseram que não. Entre os jovens ouvidos no relatório mais recente, 7% disseram ser rejeitados pelos pais – o que acontece principalmente em famílias religiosas.

Educação

Mesmo nesse contexto, o sentimento homofóbico ainda causa alarme, também porque o que se diz não é, necessariamente, o que se faz. O relatório holandês afirma haver sinais de um recrudescimento da discriminação recentemente, citando registros de ataques físicos – como espancamentos ocorridos na rua. No caso dos jovens, a atenção é voltada para a escola. Quase um em cada cinco dizem não ser aceitos totalmente no ambiente de ensino.

“O ensino secundário não é um lugar seguro para jovens gays e bissexuais. Os jovens impõem normas sexuais e de gênero rígidas uns aos outros. O escárnio e o bullying são a norma”, aponta o documento. A mesma situação é relatada pelo Observatório da Educação da Rede Ex Aequo em Portugal. “É evidente que, para muitos alunos e alunas, a fase em que descobrem e assumem a sua homossexualidade é muito complicada, frequentemente feita no seio do preconceito e do insulto, num ambiente claramente hostil”, diz Isabel Advirta, da direção da ONG ILGA-Portugal, de apoio à causa homossexual, ao Opera Mundi. “As escolas portuguesas não são, portanto, um território amigável para os e as jovens LGBT.”

Os dados do Observatório da Educação da Rede Ex Aeqo, de Portugal, permitem ter um olhar de relance de como essa hostilidade se constitui. Entre 2006 e 2008, foram recebidas no órgão 92 queixas informais de pessoas que foram vítimas ou presenciaram agressões em decorrência de orientação sexual. Desse total, 76 são alunos e a maioria dos agressores também são estudantes. Um dos relatos, do relatório de 2008, é da discussão entre professores sobre baixar a nota de um aluno após a descoberta de sua homossexualidade. Há situações em que a violência vem de outro homossexual, o que pode ser uma estratégia para coibir a própria opção.

Para Vera Bergkamp, presidente da COC Netherlands - ONG que se diz a mais antiga entidade de defesa dos direitos dos homossexuais no mundo e que tem a juventude como um de seus principais focos de atenção -, a questão da homossexualidade deve ser incluída no conteúdo ensinado em aula. Ela defende, por exemplo, que os professores indiquem a orientação sexual de figuras históricas.

“A escola é um dos locais em que há os maiores problemas. Se você não lê sobre alguém que foi gay, se não se comenta sobre isso, é fácil achar que há um problema com você”, diz a ativista ao Opera Mundi. A Rede Ex Aequo aponta a mesma falha: evita-se a menção à homossexualidade de figuras históricas importantes, o que não contribui para uma visão mais positiva da opção tanto por quem a fez como por quem não a fez, diz o relatório de 2008 do Observatório da associação.

Outros países

Além de serem alvo de rejeição fora de casa de forma mais comum do que os adultos, os jovens tendem a ser mais sensíveis a esses ataques, na opinião de Saskia, a coordenadora da pesquisa holandesa. Por isso, a alta taxa de aceitação pelos pais, identificada na pesquisa, convive com também altos níveis de depressão e pensamento suicida.

“Para os jovens, os pais são importantes, mas os amigos são tão importantes quanto. Na puberdade, é muito importante o que os seus colegas pensam de você”, diz a pesquisadora.

Em 2008, foi perguntado aos europeus se eles concordavam com a frase “os gays e lésbicas devem ser livres para viver como quiserem”. Enquanto aproximadamente 5% dos holandeses afirmaram discordar. Em Portugal, no meio da tabela, de 15%. Já na Rússia, o índice foi de quase 50% - o maior entre 21 países pesquisados.

“Os índices de suicídio entre jovens em geral é muito alto na Rússia. Eu suspeito que entre a juventude LGBT não seja exceção”, diz Polina Savtchenko, coordenadora de projetos da Coming Out ("saindo do armário") e da The Russian LGBT Network. “Nas escolas, não há ajuda disponível para a juventude homossexual. Os psicólogos não estão preparados ou educados para lidar com a orientação sexual adequadamente”, afirma.

Um dos principais lobbys da organização, afirma Polina, é classificar como crime de ódio o ataque contra homossexuais. “Não há proteção contra discriminação com base na orientação sexual. Você pode ser discriminado na escola, no trabalho.” Sem uma política central nesse sentido, o tratamento nas escolas depende da posição dos profissionais da educação em relação ao homossexualismo e a homofobia ocorre entre eles, diz ela.

“Se é claro que em algumas escolas a orientação curricular e a formação pessoal dos educadores ajudam a um ambiente amigável e acolhedor das diferenças, sejam elas quais forem, também é verdade que em outras escolas acontece o contrário”, diz Isabel Advirta, da ILGA-Portugal.

domingo, 22 de agosto de 2010

Suicídio - Dona de Casa e Desempregados

Homens desempregados de 20 a 25 anos e de 31 a 35 anos, mulheres empregadas de 20 a 25 anos e donas de casa e aposentadas de 31 a 35 anos: estes grupos se destacam entre os mais suscetíveis às tentativas de suicídio por ingestão intencional de medicamentos. A conclusão é de um estudo em Londrina que analisou 206 casos registrados pelo Centro de Controle de Intoxicações da cidade. Os casos estudados se referiam a pacientes de 20 a 40 anos que, no período de 1997 a 2007, sofreram intoxicação por medicamentos devido à tentativa de suicídio e foram atendidos no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná. Os resultados da análise foram publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.

O propósito deste trabalho é contribuir para a análise das tentativas de suicídio por sobredose intencional de medicamentos, uma vez que este é o método utilizado em mais da metade desses eventos”, justificam os autores da Universidade Estadual de Londrina. “Esses números são de grande valia para medidas de detecção, assistência e prevenção do comportamento suicida, visto que, aproximadamente, um quarto dos pacientes tenta o suicídio novamente no ano seguinte, e 30% a 47% dos suicídios consumados apresentam histórico de tentativa prévia”. No mundo, a taxa de suicídio é 16 por 100 mil habitantes. No Brasil, ela é 4,1 por 100 mil habitantes. Se considerarmos apenas a Região Sul, o número sobe para 25,2 por 100 mil habitantes.

Dos 206 casos estudados, 46,1% estavam na faixa etária de 20 a 25 anos e 79,1% eram mulheres. A análise mostrou, ainda, que mais de 40% dos casos do sexo feminino necessitaram de hospitalização, indicando que as tentativas de suicídio, além do custo social, também geram gastos financeiros significativos para o sistema de saúde. Outra observação dos pesquisadores foi a associação do medicamento com outras substâncias químicas em 51,5% dos casos, sobretudo entre homens – 40,7% deles ingeriram o medicamento com bebida alcoólica.

Houve muitos registros de tentativas de suicídio pela ingestão de mais de um tipo de medicamento. Os grupos farmacológicos mais comuns foram tranquilizantes, antidepressivos e anticonvulsivos. Os médicos, portanto, “devem saber avaliar cautelosamente o estado psíquico e emocional do paciente antes de receitar medicamentos psicoativos, que é o grupo farmacológico mais frequente e com maior risco toxicológico nessa situação”, advertem os autores. Para ler a íntegra do artigo científico, clique aqui.

Publicado em 10/8/2010.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um estudo de caso-controle

RESUMO
Este estudo tem como objetivo identificar variáveis associadas à ideação suicida ao longo dos últimos 12 meses, na cidade de Campinas, São Paulo, Brasil. Através de um estudo de caso-controle investigou-se fatores associados a ideação suicida mediante análise de variáveis independentes relacionadas ao indivíduo, à família e à saúde. Foram entrevistados 29 casos de ideação e 166 controles. Os casos foram identificados através de um inquérito de prevalência e os controles, selecionados aleatoriamente da mesma base populacional, entre os que não relataram pensamento suicida nos últimos 12 meses. Modelos de análise de regressão foram propostos para controlar a ação dos fatores de confusão ou modificadores de efeito. Nos resultados obtidos, as variáveis demográficas não estiveram associadas à ideação. Na análise final permaneceram com significância estatística as variáveis falta de energia e humor deprimido, derivadas do SRQ-20, dificuldades emocionais relatadas, vizinhança não solidária e menor freqüência à igreja. Ideação suicida mostrou-se consistentemente associada a fatores relacionados a sintomas depressivos, principalmente falta de energia e humor deprimido.

Introdução
No intuito de desenvolver métodos para o estudo do comportamento suicida em diferentes contextos, avaliar estratégias de tratamento e estabelecimento de bases científicas para futuras pesquisas, lançou-se o Estudo Multicêntrico de Intervenção no Comportamento Suicida (SUPRE-MISS), da Organização Mundial da Saúde (OMS) . Trata-se de um projeto transcultural realizado em oito países (Brasil, Estônia, Índia, Irã, China, África do Sul, Sri Lanka e Vietnam) dentro de uma iniciativa destinada à prevenção do suicídio, com a supervisão científica do Australian Institute for Suicide Research and Prevention, Griffith University (Brisbane, Austrália) e do National Centre for Suicide Research and Prevention of Mental Ill-Health, Karolinska Institute (Estocolmo, Suécia).
Na cidade de Campinas, São Paulo, Brasil, foi realizado em 2003 um inquérito de base populacional, constituinte do projeto SUPRE-MISS que revelou os casos de ideação suicida, focalizados neste trabalho.
Alguns estudos associam ideação suicida ao risco de tentativas de suicídio e estima-se que 60% dos indivíduos que se suicidam tinham, previamente, ideação suicida. A gravidade e a duração dos pensamentos suicidas correlacionam-se com a probabilidade de tentativa de suicídio, que é, por sua vez, o principal fator de risco para suicídio completo. Evidenciam-se, então, relações importantes entre pensamento e ato no contexto dos comportamentos suicidas, ainda que outros autores defendam tendências à não progressão da ideação para outras etapas do comportamento suicida.
Dois estudos epidemiológicos recentes também demonstraram associação entre ideação e tentativas de suicídio. Pirkis et al., na Austrália, investigaram uma amostra de 10.641 sujeitos, 16% dos quais tinham tido ideação suicida ao longo da vida. Nesse subgrupo, 12% tentaram suicídio num período de um ano de seguimento. Kuo et al. , em Baltimore (Estados Unidos), no intuito de compreender aspectos relacionados ao surgimento da ideação, realizaram um estudo de corte prospectivo de 3.481 sujeitos, encontrando uma incidência de 10% de tentativas de suicídio em pessoas que, na entrevista de base, 13 anos antes, relataram ideação suicida comparada com 1,6% de incidência de tentativas para pessoas que não relataram ideação.
Pacientes com ideação suicida são usuários freqüentes de serviços ambulatoriais e de internações em saúde geral e mental com maior demanda para aconselhamento, informações e uso de medicação, freqüentemente insatisfeitos quanto ao atendimento de suas necessidades. Há evidências de que intervenções específicas, realizadas em serviços de atenção primária, são efetivas em reduzir ou resolver ideação suicida e de que são freqüentes os atendimentos clínicos nos meses precedentes a uma tentativa.
Além disso, grande parte do trabalho de prevenção do suicídio fundamenta-se na identificação de fatores de risco, seja através da elaboração de estratégias de prevenção específicas para grupos específicos, ou estratégias de base populacional. Uma caracterização atenta da parcela da população que manifesta ideação suicida pode revelar especificidades que refinem o potencial de diagnosticar e agir em tempo hábil.

RESULTADO:

A avaliação da vizinhança no quanto é solidária, no quanto as pessoas se ajudam, apresentou-se significativa. Odds ratio para ideação foi de 3,9 quando esta vizinhança era sentida como distante ;

A presença de doenças ou problemas físicos nos últimos 12 meses e o uso de drogas ilícitas não estiveram associados à ideação, na análise univariada, diferentemente do uso de calmantes

A análise bruta sugeriu chance aumentada de ideação para uso de calmantes, porém, não foi mantida a significância estatística quando se fez o ajuste simultâneo para as outras variáveis.

Alguns estudos sugerem que os mesmos fatores de risco tendem a operar nas diferentes etapas do processo de suicídio . Entre esses níveis, a ideação suicida pode ser o alvo de um dos níveis mais precoces passíveis de intervenção. O presente estudo busca especificidades da população que relata ideação suicida nos últimos 12 meses, mas observa-se, contudo, que existem limitações impedindo a afirmação de que as diferenças encontradas entre os grupos constituam fatores de risco. Tratando-se de um estudo caso-controle inserido num estudo seccional, abordam-se os achados deste estudo como possíveis fatores associados.
Se o conceito de suicídio, como ato, revela-se complexo e repleto de divergências, pode-se pensar no quão instáveis e diversas são as definições correntes de ideação suicida. Primeiramente, as ideações a que se tem acesso são meramente as ideações "comunicadas". A limitação metodológica, então suscitada, é se há diferença entre um grupo que comunica e um grupo que não comunica ideação suicida. Acreditamos que são limitações inerentes a esse tipo de estudo já que "ideação suicida" (como pensamento) não se trata de uma variável passível de observação objetiva. Ao supor que os que responderam negativamente sobre a presença de ideação suicida, podem tê-lo feito por outras razões (valores morais, religiosos, empatia com o entrevistador etc.), admitimos a existência dessa possível fonte de viés: diferenças existentes podem não ser detectadas se o grupo controle estiver "contaminado" por ideação suicida não revelada. Contudo, procuramos enfatizar que a diferença a que nos propusemos a fazer seria entre o grupo que relata ideação e o grupo que não relata, ou seja, não a ideação como "pensamento", mas sim a ideação como "comunicação".
Dentre os 515 entrevistados, consideram-se então, neste estudo, os 29 que comunicaram, como os indivíduos que tiveram ideação suicida nos últimos 12 meses. Não se nega a existência de um contingente submerso, tanto no grupo de casos quanto no grupo-controle, que não se dispôs a revelar pensamentos a respeito de suicídio.
Os estudos, em geral, definem ideação suicida das mais variadas formas: relato espontâneo ou resposta a diferentes questionamentos, que abrangem desde pensamentos de que a vida não vale a pena ser vivida até preocupações intensas, quase delirantes 11.
Neste estudo, as questões utilizadas para identificar o grupo com ideação suicida nos últimos 12 meses, embora amenizem o discurso, não fazendo referência à palavra suicídio, não transpõem o desafio de verificar distinções entre idéias transitórias e idéias mais sólidas, persistentes, que talvez pudessem ser acessadas pelo uso de instrumentos específicos. Tratando-se de um inquérito comunitário, este estudo buscou simplificar a forma de abordagem, preterindo o uso de escalas a favor da formulação de questões mais diretas e simples, menos redundantes. Considerando a presença de ideação nos últimos 12 meses, e não na vida, espera-se reduzir possíveis vieses de memória. Contudo, o número de casos da amostra limita a interpretação de alguns resultados.
No presente estudo não foram observadas diferenças entre casos e controles quanto às variáveis sócio-demográficas. Estudos sobre ideação suicida na última semana não encontraram diferença quanto às variáveis sócio-demográficas, atribuindo vários fatores ao achado, como, por exemplo, o n reduzido limitando o poder do estudo de encontrar associações estatisticamente significantes 6 ou apontando as diferenças sócio-demográficas como menos decisivas quando se trata de ideação, em comparação com outras manifestações do comportamento suicida (planejamento e tentativa de suicídio) 16.
Já estudos internacionais recentes apontam maior prevalência de ideação suicida associada a fatores sócio-demográficos como gênero feminino, ter uma condição conjugal tal como divorciado, separado ou solteiro. As mulheres, de modo geral, tendem a ter mais ideação suicida na vida, mesmo havendo estudos que não encontram diferenças entre gêneros. O estudo prospectivo de Kuo et al., analisando os fatores sócio-demográficos, concluiu que apenas idade associa-se significativamente ao surgimento de ideação: mais jovens apresentam maior incidência. Apontam também a tendência para menor incidência de ideação entre afro-americanos e para mais casos entre indivíduos viúvos ou separados por ocasião da entrevista de base. Outros estudos mostram que ideação suicida pode ser mais prevalente entre indivíduos não casados e mais jovens.
O presente estudo não encontrou associação entre a religião (filiação religiosa) e a incidência de ideação suicida. Quanto a considerar-se religioso também não houve diferença significativa entre os grupos, no entanto, menor freqüência à igreja (menos de uma vez por mês) esteve associada ao grupo que relatou ideação no último ano. Dados da literatura referem que ideação suicida incide sem diferenças significativas entre as diversas religiões. Alguns estudos sugerem que a religiosidade, não se levando em consideração a afiliação religiosa, pode ter uma função protetora em relação ao suicídio. Em uma amostra de imigrantes latino-americanos, não foram encontradas relações entre religião e ideação suicida. Porém, a percepção da própria religiosidade e a freqüência à igreja foram negativamente associadas com ideação suicida. Infelizmente, no intuito de simplificar o questionário para facilitar a execução, optamos por abreviar a investigação de determinadas questões e com isso não pesquisamos a religião em que o indivíduo foi criado ou o tempo de conversão, que, certamente, propiciariam análises interessantes.
Quanto aos sintomas psiquiátricos avaliados, os achados deste estudo relacionados a humor depressivo e falta de energia, estão de acordo com os de Gili-Planas et al. em que transtornos afetivos são a categoria mais freqüente de transtorno em sujeitos que apresentam ideação suicida. Também a diferença quanto às "dificuldades emocionais por mais de um ano", com a especificação de que "impedem a boa realização de tarefas do dia-a-dia", pode ser atribuída aos sintomas depressivos e à falta de energia. A avaliação da vizinhança como distante ou não solidária, significativa para o grupo com ideação, pode relacionar-se a sentimentos de desesperança e solidão nesta população. Quando diferentes aspectos de sofrimento são avaliados, o sentimento de desesperança mostra-se fortemente associado à ideação suicida . Goldney apontam a importância do transtorno depressivo como fator contribuinte para ideação suicida na comunidade. Segundo estudos de autópsia psicológica, 60% dos suicídios transcorrem em indivíduos com sintomas depressivos significantes 21. Estudos de risco atribuível na população observam que, se toda a depressão pudesse ser prevenida ou efetivamente tratada, 40-50% do comportamento suicida e da ideação suicida poderiam ser eliminados. Esta consistente associação entre quadros depressivos e ideação suicida afasta uma tendência de determinados autores a "normalizar" a ideação suicida, colocando a questão como algo intrínseco ao ser humano, pensar na existência e na possibilidade de voluntariamente pôr um fim a ela. Não há evidências que sustentem este ponto de vista.
Os achados quanto ao uso de álcool e outras drogas, diferentemente dos encontrados na literatura, não permitem estabelecer diferenças entre os grupos quanto ao uso desses psicotrópicos. A literatura mostra que, para casos incidentes de ideação, por ocasião de uma entrevista de base, 13 anos antes, observa-se maior probabilidade de relatos de história de abuso ou dependência de drogas ou depressão. No mesmo estudo, não houve associação entre diagnóstico de abuso ou dependência de álcool, transtorno do pânico, agorafobia, esquizofrenia, transtornos obsessivos compulsivos (TOC) e transtorno de personalidade anti-social e o surgimento de ideação suicida. O presente estudo não avaliou aspectos de comportamento relacionados a atuações anti-sociais, a não ser uso de álcool e outras drogas.
Se ideação suicida é seis vezes mais freqüente na população do que tentativas e alguns autores sugerem que não se pode ligar muito facilmente ideação suicida à tentativa efetiva de suicídio ou defendem que há uma tendência à não progressão da ideação para outras etapas do comportamento suicida, ainda assim, há evidências de que fatores como personalidade, controle de impulsos, suporte social e fatores culturais podem influenciar a seqüência ideação suicida – tentativa de suicídio – suicídio e, a despeito de algumas descontinuidades, as diferenças etiológicas que se estabelecem entre suicídio, tentativa de suicídio e ideação poderiam ser mais de grau do que de tipo. Fatores relacionados a estresse, suporte social, auto-estima, uso de álcool, depressão, desesperança e dor crônica parecem ser comuns às várias etapas do processo.
Mesmo com o número reduzido da amostra, que limita a interpretação de alguns resultados, com possibilidade de não serem encontradas diferenças quando comparados os grupos, observou-se diferença significativa quanto às variáveis ligadas a sintomas depressivos. A presença de sintomas depressivos pode também alterar a percepção das relações sociais, proporcionando uma atitude mais pessimista frente à possibilidade de auxílio por vizinhos, ou mesmo pela igreja, e desamparo frente aos mais próximos.


Viviane Franco da Silva; Helenice Bosco de Oliveira; Neury José Botega; Letícia Marín-León; Marilisa Berti de Azevedo Barros; Paulo Dalgalarrondo
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil

Da Lei: Induzimento, instigação ou auxílio ao Suicídio - art. 122

  • Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça.


    Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.


    SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa.
    SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa determinada que tenha o mínimo de discernimento.


    ANÁLISE DOS VERBOS:
    - AUXILIAR: é fornecer material. Por exemplo: a corda, a arma, a faca, o veneno, etc.
    - INDUZIR: é fazer nascer uma ideia de tirar a própria vida
    - INSTIGAR: a ideia de suicidar-se já existia. Reforça-se a ideia que a vítima já tinha.


    CONSUMAÇÃO: consuma-se com o evento morte ou com o evento lesão corporal de natureza grave.
    Se da participação do agente houve a morte da vítima, a pena é de reclusão de 2 a 6 anos.
    Se da participação do agente restaram lesões corporais de natureza grave, a pena é de reclusão de 1 a 3 anos.
    Se resulta lesões corporais gravíssimas, também a pena é de reclusão de 1 a 3 anos. Ou seja, são todas as hipóteses do §1º e do §2º, do art. 129, do CP.


    FATO ATÍPICO: Se a lesão corporal for leve.
    FATO ATÍPICO: Suicídio
    FATO TÍPICO: Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.


    AÇÃO PENAL: A ação penal é pública e incondicionada.
    Por se tratar de crime doloso contra a vida é julgado pelo Tribunal do Júri.
    O CP não previu a modalidade culposa. Se o agente fez, foi porque quis.


    OCORREU MESMO O INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO?
    - Tem que ter NEXO entre as ações e a forma de como se consuma.
    Portanto, tom de brincadeira não configura, pois não há dolo.


    PACTO DE MORTE COM MAIS DE DUAS PESSOAS:
  • 1ª SITUAÇÃO: Todos entram numa câmara de gás e todos executaram a ação de abrir o gás ao mesmo tempo. Todos sobreviveram. Houve crime? Não.
    É fato atípico.


    2ª SITUAÇÃO: Todos entram numa câmara de gás e só um executa a ação de abrir o gás. Um ficou com lesão grave e os demais sobrevivem sem sequelas. Houve crime? Sim.
    O executor responde por tentativa de homicídio.
    Os sobreviventes cometeram fato atípico.


    3ª SITUAÇÃO: Todos entram numa câmara de gás e um só executa a ação de abrir o gás. Todos morreram, exceto o executor . Houve crime? Sim.
    O executor responde por homicídio.


    4ª SITUAÇÃO: Todos entram numa câmara de gás e só um executa a ação de abrir o gás. Todos morreram, inclusive o executor, sobrevivendo um só. Houve crime? Sim.
    O sobrevivente responde por induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.


    PARA FIXAR: CONDUTA + RESULTADO
    Avô no leito de hospital:
    PRIMEIRO:
    O neto trás o copo de veneno para o avó tomar.
    O próprio avó é quem toma. Houve AUXÍLIO.


    SEGUNDO:
    O neto trás o copo de veneno para o avô tomar.
    O avô começa a beber, porém, o netinho dá uma empurradinha no copo.
    Houve HOMICÍDIO cometido pelo netinho.


    CRIME MATERIAL: O tipo penal descreve a conduta e o resultado exigindo para sua consumação a ocorrência do resultado

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Compreendendo o olhar Psicológico sobre o Suicídio.

Na difícil e complexa concepção do existir enquanto pessoas, humanos pela espécie, humanos pela afetividade, humanos pela racionalidade e pela consciência, quão difícil é conceber-nos como indivíduos responsáveis pela vida, enquanto que a maioria de nós aborta essa responsabilidade da consciência. Humanos, principalmente pela forma de aliernarmos o que é real, o que é irreal, o que é concreto e o que é abstrato. Alienação que perpassa pelo desejo de cada indivíduo, ser este capaz de manipular os próprios desejos e sobretudo de não entender a si próprio, de desconhecer a si próprio. Quem somos nós?

Seres capazes e incapazes... Geramos vida, mas damos fim à própria vida...

Qual a angústia do viver capaz de levar um sujeito a destruir a própria existência?

Quantos anos ainda buscaremos respostas para a auto-eliminação?

Algo deve ser feito...

Uma das questões mais presentes na vida é a idéia da morte. Vivemos em um mundo de dúvidas, onde nossa única certeza empírica é que um dia morreremos. A morte revela ao ser humano sua fragilidade, sua impotência frente aos processos da natureza.
Para entender e para lidar com a morte algumas pessoas partem de princípios científicos, religiosos, ou como alternativas mais abstratas e subjetivas como com a arte, através da: música, pintura, poesias, etc (estas últimas se lançam numa reflexão bastante envolvente, crítica, às vezes irônica da morte).

[...]

Por se tratar de uma questão estrutural de falha social, a família se encaixa neste contexto, seja no sentido de manter segredo sobre a tentativa de suicídio de um membro, seja na vergonha de ter noticiado publicamente o ato consumado de um de seus membros.
As causas mais comuns de suicídio são: Ruínas financeiras; Vergonha e desonra; Desilusões amorosas; Doenças físicas: AIDS, Câncer, etc. Doenças mentais (Psicose,depressão, vícios); Solidão; Medo do futuro, de fatos sabidos ou imaginados...

[...]

O tema Suicídio possui implicações que podem variar de acordo com a cultura de cada população. Porém, na grande maioria dos povos, a morte é encarada como uma perda irreparável e que traz muito sofrimento para aqueles que ficam. O conceito de terminalidade é um conceito relativo, já que todos nós temos a morte como fim do nosso processo de desenvolvimento. A morte é um tabu em determinadas sociedades, pois há uma crença de que o processo de morte é sempre acompanhado de sofrimento e de dor insuportável.

Normalmente o que se espera é que o homem nasça, cresça e se desenvolva cumprindo o seu ciclo vital (com morte natural). Alimentando-se do desejo que o sujeito humano, ao longo da vida, elabore suas perdas, seus lutos, transformando-os e trabalhando a sua subjetividade na preservação da própria vida. No entanto, um ser humano angustiado e preocupado com a sua terminalidade, perdendo parte de sua beleza e de sua plenitude pode ficar sujeito ao acometimento de atentar-se para com a própria vida.
Para tomar tal decisão, a pessoa deve não acreditar mais que as coisas podem mudar. Quando se trata de alguém com diagnóstico de psicose, ou em fase terminal de uma doença é possível compreender o grau de desespero. Porém, quando se trata de pessoas jovens e em boa saúde dificulta-se a compreensão desse ato.
O modo como as perdas são administradas na família e os “mitos” correspondentes a elas, os quais são desenvolvidos dentro do contexto familiar determinam se o ato suicida vai ser a resposta a uma perda percebida ou antecipada. Porém, em 90% dos casos de suicídio, o suicida avisou antes de exterminar-se.

Nem sempre as fábulas e os mitos de sucesso arraigados nas sociedades funcionam da mesma maneira para todos os indivíduos, nem tampouco para os familiares. Os trágicos mitos a respeito do valor mal construído da família e do risco de confiar nos outros, derivados de muitas gerações de crises, são precursores importantes na decisão da realização do ato suicida.
A pessoa com pensamento suicida apresenta uma gama limitada de mitos pessoais para administrar. No momento em que esses mitos passam a ser insustentáveis, o sujeito não tem como adaptá-los ou substituí-los e, privado de qualquer modo de antecipar um futuro que possa ter um desenrolar positivo e incapaz de realizar a reconciliação, acredita que a passagem ao ato é a única opção viável para si. Como o suicídio, há outras formas que implicam não tão somente na morte auto-inflingida, mas em processos autodestrutivos crônicos como no uso das drogas, do álcool, em certos tipos de acidentes etc.

Como Psicóloga, ressalto que quando o terapeuta toma conhecimento de que o seu cliente planeja cometer auto-extermínio, considerando todo o contexto do caso, e sendo uma situação que configure conflito no dever do psicólogo de respeitar o sigilo profissional a fim de proteger a intimidade de quem com ele se trata, o Código de Ética da profissão permite que o Profissional decida pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo, preservando assim a vida. Dessa forma, o profissional pode trazer ao tratamento a realização de intervenção aproveitando a oportunidade da crise para reaproximar membros da família que estavam polarizados e distantes. Estes, se instruídos e motivados adequadamente e tendo suporte à disposição a todo o momento, freqüentemente conseguem monitorar o comportamento daquele que tentou suicídio com seguranças durante os períodos agudos de crise. É importante essa reunião dos familiares em torno da crise. A crise suicida pode ser uma oportunidade para reverter o processo de fragmentação das relações e criar uma cerimônia de reconciliação.
Definições teóricas se alternam, se complementam, se contradizem: as reticências, ou mesmo um ponto de interrogação permanecem em desafio a uma resposta definitiva e exata. Não há uma única resposta porque o caminho do suicídio é o da ambigüidade. Nele vida e morte se encontram, se complementam, se contradizem, repetindo este movimento infinitamente como as definições do próprio termo em torno de ódio e amor, coragem e covardia, etc. Mesmo afirmativas que parecem inquestionáveis, como a de que o suicídio é resultado de angústia e sofrimento, não valem para todos os países e se tornam absurdas quando se estudam os casos de suicídio em países orientais. É comum os estudiosos do suicídio serem acusados de defendê-lo e incentivá-lo, sem considerar de maneira mais humana o drama de quem vive com suicidados na família ou com o suicídio dentro de si mesmo. A tais acusações, cabe responder que é preciso chamar a sociedade a assumir parte da responsabilidade com os suicidados o que não significa defendê-los e nem incentivar o ato suicida, mas a discussão é rica justamente porque o drama vida/morte é vivido por todos nós com nossas reflexões carregadas de sentimentos.
O tratamento dos casos de suicídio não deve ser levado em teorias que generalizam sua compreensão e universalizam suas explicações a partir de um determinado caso. Em cada sujeito que se mata fracassa uma proposta comunitária. O pensamento de que toda a realização do ato suicida centraliza-se no sujeito é ultrapassado. A tentativa de compreensão deste se mistura a outras formas de violência e se torna parte de um todo social destrutivo.
O suicídio é um gesto de comunicação. O indivíduo se mata para relacionar-se com
os outros e não para ficar só ou desaparecer. A morte é o único meio que o
sujeito encontra para restabelecer o elo de comunicação com os outros. Ele
pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário e que, além de tudo, é
uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto. (Marcimedes,1992)
De certa forma podemos concluir que mesmo com toda a revolução técnico-científica, a morte continua sendo um tema difícil de se abordar, um tabu existente em algumas sociedades. E esse fato de existir, porém ser um “não dito” é tão arraigado na nossa cultura que faz com que o ser humano apresente dificuldades para compreendê-la. A morte geralmente é compreendida pela nossa sociedade sob uma perspectiva assustadora. Ao lidar com este assunto, o individuo acaba esbarrando em suas resistências e na questão de sua existência, conseqüentemente, na sua finitude, trazendo suas angustias a tona.
Além da questão da morte, o suicídio também se apresenta como um tabu na sociedade. Não se comenta como, quando, onde e o motivo. É proibida, por lei a divulgação de tal assunto nos meios de comunicação devido ao fato de as autoridades acreditarem que este fenômeno tem o poder para influenciar outros jovens. O suicida tem sérias dificuldades para administrar os mitos presentes em sua vida, e estes passam a ser insustentáveis para ele. Sendo assim, acredita que efetuar a passagem ao ato é a única forma de comunicação para dar conta de lidar com todas suas dificuldades, medos e anseios e de trazer para a sociedade aquilo que ele não deu conta de expor de outras formas.
  • A maioria dos suicídios é praticado por homens, mas as mulheres tentam mais tirar a própria vida.
  • Estima-se que de 10 milhões a 20 milhões de pessoas tentem suicídio a cada ano.

"Os homens costumam lançar mão de meios mais definitivos do que as mulheres", disse Lars Mehlum, presidente da Associação Internacional para a Prevenção de Suicídios.

Estatisticamente os idosos têm maior probabilidade de se matarem, embora homens com idades entre 15 e 29 anos cada vez mais tentam o suicídio.

A associação afirma que isso se deve em grande parte à disponibilidade de armas.

"Armas de fogo são o instrumento mais letal de suicídio. Poucas pessoas resistem quando atiram contra si mesmas", disse Mehlum.

Em se tratando de pacientes terminais, é importante ressaltar que, no instante em que o paciente toma conhecimento do seu quadro clínico e das propostas para tratá-lo (quando possível), ele se torna susceptível a desencadear comportamentos visivelmente percebidos em pessoas que enfrentam uma grande perda, podemos chamar como etapas do luto:
- Negação e isolamento: um mecanismo que é mais comum no início do processo. Pode ser seguido de choque e retraimento.
- Raiva: é uma revolta por não compreender o motivo do fato estar acontecendo justamente com ele.

- Barganha: Esforço de colaborar com o tratamento acreditando na possibilidade de assim poder adiar o desfecho inadiável.

- Depressão: É um estado de preparação para a perda de todos os objetos amados e também um momento em que se elabora um luto de perdas que já foram vividas.
- Aceitação: O paciente parece desligado, dorme, não mais como fuga, mas como um repouso antes da morte.

Nem todos os pacientes atingem a etapa da aceitação. Aqueles que conseguem atingir causam tremendo incômodo nos seus familiares, pois eles querem trazê-lo para a vida, conversar, falar de aspectos do mundo e isto para o paciente já não é mais interessante uma vez que o desligamento já se processou. Um diagnóstico que apresenta uma doença que diminui o tempo de vida altera a trajetória familiar e à medida que isso acontece, as crenças mais íntimas sobre a vida e a morte são confrontadas e desafiadas.
Entre as implicações mais poderosas de um diagnóstico de doença terminal, estão as crenças do paciente e da sua família sobre este diagnóstico.

Nas famílias que experienciam uma doença terminal, há uma probabilidade aumentada de desenvolvimento de sintomas emocionais e/ou físicos quando seus membros são incapazes de discutir abertamente a morte iminente” (Herz Brown, 1989).

Freqüentemente, quando a família e o indivíduo moribundo tentam proteger um ao outro da ansiedade, deixam de se comunicar. A falta de comunicação cria tensão e distanciamento, que podem manifestar-se em uma variedade de sintomas. A família também vivencia o mesmo processo de perda que o paciente, não necessariamente na mesma sintonia. Porém, sua forma de enfrentar o fato vai depender da estrutura de casa um. É diante de casos assim que o psicólogo, inserido em uma instituição de saúde, está apto a atuar. Visto que, de acordo com o Código de Ética, um dos princípios fundamentais da função deste profissional é trabalhar visando “(...) promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Código de Ética do Psicólogo, agosto 2005, p.7)

Quando se utiliza o rótulo “terminal”, traz-se a idéia de que não há mais nada a se fazer pelo paciente. Portanto, este é o momento-chave já que o ele se encontra necessitado de ajuda física e psíquica. O paciente não está morto, dessa forma, continua como um ser desejante. E é com base nos seus desejos que circunda o trabalho psicoterápico.

Este processo não visa a cura da doença nem sequer induzir uma aceitação ao paciente. Enfim, trata-se de fornecê-lo um espaço para falar da sua doença, do medo da morte, da vida ou de quaisquer outros temas que ele achar adequado. Faz-se isso sempre acreditando num acolhimento em que se enfatiza a qualidade de vida, na facilitação da comunicação e na expressão dos sentimentos.

Porém, há casos em que o paciente apresenta um quadro com baixa escala de consciência não respondendo a estímulos e, conseqüentemente não realiza contato algum com aqueles a sua volta. E então o trabalho do psicólogo passa a ter uma abrangência maior com os familiares. É nesses momentos que entram em questão assuntos como a Distanásia e a Eutanásia. Uma parte dos familiares que ainda vivenciam as etapas da perda são a favor da utilização de todos os recursos que a medicina dispõe para que o paciente, mesmo em coma (induzido ou não), permaneça “vivo”. Outros fazem opção pelo limite de esforços terapêuticos por não suportarem ver o ente naquela situação. Preferem não prolongar tal sofrimento.

Essas duas vertentes abrem leque para muita discussão sobre a conduta ética dos procedimentos éticos. Mas, antes de entrar nesse assunto, faz-se necessário definir o significado desses dois conceitos:

  1. Eutanásia: também chamada de “morte piedosa” é uma ação ou omissão que busca a morte com o objetivo de eliminar toda a dor do paciente.

  2. Distanásia: atitude médica que, visando salvar a vida do paciente, submete-o a grande sofrimento. Nesta conduta adia-se o processo de morrer.

No Brasil, a eutanásia não é aprovada em lei. A atribuição de matar legalmente os doentes, investida a classe médica, acarretaria numa cisão da relação médico-paciente. Cairia sobre os médicos um olhar de suspeita, pois este já não estaria mais invariavelmente ao lado da vida e, assim passaria a ser visto como um possível matador. A partir daí mantém-se os cuidados necessários até que de fato, por lei natural, o paciente parta.

A dificuldade de encarar a morte como um fator natural deve-se, entre tantos e outros fatores, ao avanço científico que promoveu um adiamento do momento da morte sem uma conseqüente preocupação com a qualidade de vida dos pacientes. O paciente perdeu o seu lugar social e passou a ser o número do leito que ocupa e o diagnóstico que lhe foi dado. Além disso, em vez de repouso e tranqüilidade passou a receber aparelhos, transfusões, picadas, intromissões de tubos e cateteres e exames muito invasivos. Com esse avanço, a preocupação agora é com órgãos, pulsações e não com a pessoa, o que faz com que a morte se torne um ato solitário, mecânico e doloroso.

Foi desse princípio que surgiu a idéia de se buscar um atendimento mais humanizado, ou seja, inserir o paciente novamente em seu lugar social procurando ouvi-lo nas suas necessidades como seres humanos. E desse trabalho ele passou a ser mais participativo no seu tratamento. A grande questão não seria mais informá-lo que ele tinha uma doença grave e sim como transmitir essa informação de forma que pudesse acolhê-lo.

Portanto, compromisso, sensibilidade, conhecimento, preocupação com outro ser humano e a crença de que a vida é um aprendizado que vale a pena - são os principais recursos que os profissionais de saúde primária têm; apoiados nisso eles podem ajudar a prevenir o suicídio.

Para esclarecimento sobre Ética:

Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.
Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.

Para esclarecimentos sobre as Políticas Públicas:

Para os casos de doença terminal, a atuação do governo federal vem em duas vias: doenças como AIDS e câncer, antigamente entendidas como terminais, agora são encaradas como controláveis; (para o ministério, quanto mais cedo o diagnóstico, maior a possibilidade de qualidade de vida do paciente).
A respeito das doenças terminais, o Conselho Federal de Medicina aprovou resolução que permite ao médico suspender tratamentos e procedimentos que prolonguem a vida dos doentes sem chances de cura, desde que a família ou o paciente concorde com a decisão, que deve constar no prontuário médico.
Na Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio, do Ministério da Saúde, este é um problema de saúde pública que afeta toda a sociedade e pode ser prevenido.
Como medidas preventivas, a Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde recomenda esforços para reduzir o acesso a meios letais e métodos autodestrutivos (...) a diminuição do número de comprimidos psicoativos prescritos em cada receita médica. (Brasil, 2006)

Karina Araújo Campos
Psicóloga

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pensando no Suicídio e na Sociedade

Durante uma entrevista para a produção de um vídeo conversei com um psicanalista daqui de Salvador sobre a questãao do suicídio. Estava tentando encontrar nele um reforço sobre relação entre o suicídio e a Homossexualidade/Homofobia.

Disse ele que a "opção" sexual(óóóó céus - não é uma opção - começamos bem rsrsrs) nada tinha a ver com um ato suicída que alguém (homossexual) venha cometer. Aí veio todo aquele discurso de dor na alma (que eu concordo) e que o sujeito escolhe se matar por uma questão somente interna e que fatores externos não teriam força para agir no sujeito com tal força bá blá blá blá.

Pausa.

Respira fundo, se segura pra não cair da cadeira.

Há muito tempo não discordava tão ferozmente de alguém. Me senti completamente embasbacada de ouvir tal asneira de um psiquiatra/psicalista.

Hoje já consegui me recompor do choque, então vamos lá;

De que mundo vem o ET que acredita que as dores na alma não são dores causadas pela interpelações sociais? Se existe esse planeta, deve ser um mundo bem melhor que o nosso.

Se alguém discorda disso por favor, me convença .

Canso de ver nas comunidades sobre pessoas que cometem suicídio e deixam seus perfis ativos nos sites de relacionamento e os q vão confrontar os suicidas se encomodam: " tão bonita e se matou", "parecia tão feliz e se matou", "nossa...tinha filhos,família,uma vida confortável e se matou" , "tinha tantos amigos, tão amado e se matou".
Às vezes a pessoa é tudo isso junto e se mata.
Não me venham dizer, psicalistas ETs, que isso nada tem a ver com as opressões sociais a quais estamos submetidos todos os dias.

Minha questão aqui é a homofobia como um fator estressante ao homossexual que favorece a ideação suicida. A
Heteronormatividade, é somente um exemplo de interpelação social. Logicamente que o sujeito vítima da homofobia (nem sempre explicita) é corroído por dentro silenciosamente e nunca isoladamente. A soma de ataques externos provoca danos internos fazendo-o atentar contra sua própria vída. Há diversos fatores até que se chegue a ideação suicida.

Talvez ninguém se mate por ser homossexual, negro, judeu, deficiente, seja lá qual seja o grupo minoritário, qualitativamente falando. Estes se matam pela culpa, vergonha, exclusão, por serem coagidos diariamente por uma sociedade (no sentido mais concreto possível) que de algum forma acabam por não seguir as regras (heteromativas, brancas, masculinas e eurocentricas) dita como certa e normal.

Os efeitos desses sentimentos são as tais feridas na alma. Então não me venham com xurumelas somos todos culpados pelos suicídios crescentes e diários.

É isso aí!
POR CARLA FREITAS

domingo, 1 de agosto de 2010

Matéria

Olá...aí segue um link com uma matéria pequena minha sobre os estudos de Botega:

Blog: http://nossasaude.wordpress.com/2010/08/01/suicidio-terceira-causa-de-morte-no-brasil/#comment-5

No Twitter: https://twitter.com/blognossasaude

Suicídio e Epilepsia (remédios)

Medicamentos mais recentes criados para o tratamento da epilepsia - levetiracetam, topiramato e vigabatrina - associados ao maior risco de depressão entre pessoas que têm a doença, podem aumentar o risco de comportamento suicida e de automutilação, segundo pesquisa divulgada na Academia Americana de Neurologia.

Já outra classe de medicamentos também novos, mas considerados com baixo risco de causar depressão - lamotrigina, gabapentina, carbamazepina, valproato e fenitoína – não mostraram risco de causar este tipo de comportamento.

O estudo analisou um grupo de 44.300 pessoas que sofriam de epilepsia e que usavam pelo menos um tipo de remédio para conter a doença de 1989 a 2005. Os participantes foram acompanhados por uma média de cinco anos e meio. Destas, 453 contaram que já haviam machucado a si mesmas ou tentado suicídio; 78 pessoas morreram na hora ou no prazo de quatro semanas da primeira tentativa. As 453 pessoas foram comparadas com 8.962 do grupo que não tinha se prejudicado ou tentativa de suicídio.

A pesquisa constatou que as pessoas que usavam os remédios “depressivos” eram três vezes mais suscetíveis a prejudicar a si ou de tentar o suicídio do que aqueles que não estavam tomando nenhum remédio.

Um total de seis das 453 pessoas, ou 1,3%, que prejudicaram a si mesmos ou tentaram suicídio, estavam tomando os mesmos medicamentos, em comparação com 45 das 8.962 pessoas, ou 0,5 por cento, daqueles que não mostraram perfil de machucar a si mesmos.

Segundo Frank Andersohn, da Charité University Medical Center in Berlin, na Alemanha, um dos autores do estudo, no entanto, as pessoas não devem parar de uma vez ou mudar a medicação com base nas conclusões deste estudo, mas deve discutir este assunto com seu médico.

Fonte: R7.COM